"em que idade do coração se apaga o riso dos homens?"
Al Berto

Tuesday, November 27, 2012

- Não sei como dizer. Não sei como explicar. Aconteceu assim de repente. Conheci-o. Gostei dele. Apaixonei-me.
- Assim, sem mais nem menos?
- Sim, assim sem mais nem menos.
- Como se chama ele?
- Não sei.
- Não sabes?
- Não me disse.

Ela olhou para mim como se eu fosse doida. Mas como poderia eu censurá-la? A mim também tudo me parecia uma loucura. Conhecera-o por mero acaso. Eu ia apanhar o autocarro, ele dirigia-se para a estação dos comboios e nesse milésimo de segundo os nossos caminhos cruzaram-se. Olhamo-nos, sorrimos um para o outro e ele falou.

- O que te disse?
- Não me lembro.
- Não te lembras?
- Não.

Agora parece tudo muito distante. Passaram-se quantos anos? Dois, três? Talvez quatro. Voltei ao café onde estivémos pela última vez. Onde ele me disse que iria deixar a namorada para ficarmos juntos e eu respondi: "Que loucura, não vais nada. Não por mim". Mas no meu íntimo eu desejava que ele o fizesse.

- E apareceu?
- Não.
- Não?
- Não.
- Porque achas que não apareceu como combinado?
- Não sei. Porque não quis. Porque se esqueceu.
- Não, não me parece que se tivesse esquecido.
- Talvez. Não sei. Agora não interessa. Passou muito tempo.
- E ainda gostas dele?
- Sim.

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