"em que idade do coração se apaga o riso dos homens?"
Al Berto

Thursday, November 29, 2012

O silêncio é a única forma de te amar. O silêncio é a única forma de me enredar numa teia de doces ilusões. O silêncio é a única forma de fugir. De não parar.

O silêncio é uma forma de te matar. De me matar. O silêncio é a única forma de esquecer. O silêncio é a única forma de evasão e de perdão.

O silêncio será a única forma.

Wednesday, November 28, 2012

profano é o ignorar de toda a ilusão
Os únicos sons que se fazem ouvir na casa às escuras são os das 3 patinhas da gata no soalho.
Deitada na cama, abraçada pela escuridão quente do quarto, interrogo-me sobre os sonhos que a gata persegue todas as noites antes de se enrolar aos meus pés para dormir.

Tuesday, November 27, 2012

- Não sei como dizer. Não sei como explicar. Aconteceu assim de repente. Conheci-o. Gostei dele. Apaixonei-me.
- Assim, sem mais nem menos?
- Sim, assim sem mais nem menos.
- Como se chama ele?
- Não sei.
- Não sabes?
- Não me disse.

Ela olhou para mim como se eu fosse doida. Mas como poderia eu censurá-la? A mim também tudo me parecia uma loucura. Conhecera-o por mero acaso. Eu ia apanhar o autocarro, ele dirigia-se para a estação dos comboios e nesse milésimo de segundo os nossos caminhos cruzaram-se. Olhamo-nos, sorrimos um para o outro e ele falou.

- O que te disse?
- Não me lembro.
- Não te lembras?
- Não.

Agora parece tudo muito distante. Passaram-se quantos anos? Dois, três? Talvez quatro. Voltei ao café onde estivémos pela última vez. Onde ele me disse que iria deixar a namorada para ficarmos juntos e eu respondi: "Que loucura, não vais nada. Não por mim". Mas no meu íntimo eu desejava que ele o fizesse.

- E apareceu?
- Não.
- Não?
- Não.
- Porque achas que não apareceu como combinado?
- Não sei. Porque não quis. Porque se esqueceu.
- Não, não me parece que se tivesse esquecido.
- Talvez. Não sei. Agora não interessa. Passou muito tempo.
- E ainda gostas dele?
- Sim.
profano é o olhar que viola a solidão
Nesse extremo oposto
do teu eu
diluem-se a vontade
e o desejo
do meu ser
Oculta-se o olhar.
Perde-se nos finos tecidos
das cortinas.
As palavras
permanecem inauditas.
O tempo não passa.
O gesto
expressa
o carinho;
a ternura
que o corpo anseia.
O esquecimento
assemelha-se a um
paraíso
no qual se quebraram
a vontade
e o desejo.
Aniquilado o êxtase,
perdura apenas
um ínfimo
fragmento
desse sentimento;
Fonte inesgotável de calor,
na qual se espelha
a ideia de passado.
No mais profundo de mim eu sou mágoa, eu sou ressentimento, eu sou rancor. No mais profundo de mim eu sou histeria, eu sou caos.  No mais profundo de mim eu grito sem me ouvir. No mais profundo de mim eu fujo e escondo-me. No mais profundo de mim eu esqueço, eu quebro, eu pairo. No mais profundo de mim eu não sou.

No mais profundo de mim renasço.
Fazes-me falta e contudo eu sei que é assim que tem de ser. Eu no meu caminho. E tu no teu. Cada qual lutando com os seus fantasmas para se libertar e tornar-se um ser mais completo. Não há vez que não feche os olhos em que não veja o teu sorriso. Aí toda eu sorrio.

Peço por ti. Peço para que busques esse amor escondido nas profundezas de ti e que o partilhes com outros sem reservas. Dá-te. Entrega-te. Permite que te amem.

Voa. Sê plenitude. 

o início

Este blogue nasce do gosto pelas palavras. Os textos são um mero exercício de escrita pessoal sem qualquer pretensão para ser mais do que aqui se apresenta.